Quinta-feira fui ao teatro Miguel Franco assistir a uma encenação dramática de nome “Motores de madeira” com Joel Ferreira, Márcio Menino e Rui Henriques. Três jovens talentos, como muitos desconhecidos do grande público.
A sinopse “Duas famílias - pais e filhos - digladiam entre si, procurando a realização pessoal de cada um. Das suas aspirações, resulta uma teia que faz sobressair a opressão do passado, a fobia do futuro e a frustração do presente.
Uma peça onde a intensidade psicológica das personagens está omnipresente e os seus limites de vivência são constantemente postos à prova.”
Uma peça curta em tempo de representação, mas profunda no seu conteúdo. Vi duas famílias em que o conflito de gerações está sempre presente, onde os mais velhos querem transmitir aos filhos aquilo que eles mesmos aprenderam. De um lado a incompreensão dos filhos que querem traçar o seu próprio futuro sem dependerem das famílias, querem traçar o futuro com base nas suas capacidades e não nas tradições passadas. Por outro lado temos um jovem que pretende seguir a “adrenalina familiar” que o Pai perdeu por infortuna da vida.
Para além deste misto de conflito de gerações, temos o orgulho dos Pais e dos filhos que o tempo afastou e que nunca mais se reencontraram plenamente. Orgulho que os cega e os afasta...
Vivendo em meio pequeno, os Pais apesar de uma tragédia que separou as duas famílias, encontram-se habitualmente na taberna apesar das feridas passadas, partilham o jogo como ocupação e distracção, sem no entanto esquecer essas mesmas feridas passadas, ou seja estão separados mas juntos....
No final vemos a ânsia de querer reencontrar os filhos. O querer esquecer o passado é de tal maneira forte, que os leva à loucura de querer criar um “motor de madeira” que os possibilitará o reencontro. Será de dizer que a vontade do reencontro é de tal maneira forte, que os leva à loucura, para quebrarem barreiras e passar vales e montes para poderem estar com os seus filhos.
Gostei muito. Por várias razões. Achei a peça simples mas profunda, talvez mais um actor teria dado um pouco mais de dinâmica à encenação. Gostei dos efeitos de luz e som. Gostei da juventude que compôs a plateia, completamente cheia. Esta peça enquadrava-se na semana da “Jornada da Pastoral urbana” sob o tema “Para quê viver?” Talvez a peça não fosse 100% enquadrada no tema, mas cativou pessoas que habitualmente não participam nessas jornadas, como tal foi positivo e penso que será um campo de aproveitar e explorar em próximas jornadas, pelo menos para chegar onde habitualmente não se chega...