Extraído de uma revista online penso que foi da máxima. Sabem o que é um pecado? Ou será coisa do antigamente... Aqui fica:
Dos sete pecados considerados capitais ou mortais pela Igreja – soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça –, poucos têm expressão na sociedade moderna. Só mesmo a avareza, como traço de personalidade oposto à generosidade e ao altruísmo, continua a ter uma conotação negativa.
A inveja é muitas vezes entendida como luta pela vida. E a preguiça, no sentido do repouso merecido, perfeitamente aceitável. Também a indignação face a situações injustas deixou de espantar e não condena os indivíduos ao fogo do Inferno. Pelo contrário, a exteriorização da raiva pode ser terapêutica. Funciona como catarse. Daí que possamos encontrar no egoísmo, algo que anda na vizinhança da mesquinhez, um dos novos “pecados” de que toda a gente fala. Os pecados sociais.
O que é um pecado social? O que encerra este novo conceito de transgressão e qual a sua relação com os antigos pecados, definitivamente organizados pelos católicos da Idade Média? Diz o dicionário sobre o pecado: “Culpa, vício, falta (…) transgressão da lei divina.” Na sua origem, a palavra significa “estar em dívida com…” – neste caso, com Deus. Portanto, apesar da popularização do termo, “o conceito de pecado tem uma conotação católica veiculada”, observa Moisés Espírito Santo, sociólogo e professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa. As virtudes Para cada pecado mortal foi também estabelecida uma virtude. Assim, podemos contrapor:• Soberba – Humildade • Avareza – Generosidade • Luxúria – Castidade • Ira – Docilidade • Gula – Temperança • Inveja – Fraternidade • Preguiça – Diligência
Segundo a tradição cultural católica, “esta dívida” com o Altíssimo pode ser maior ou menor. Daí a tipologia das transgressões. “Os pecados estão aglomerados em grupos distintos conforme a gravidade. Os mortais são os que matam a Graça de Deus, fazem suspender a Sua bondade. Por outras palavras, faz a alma morrer perante Deus”, diz o especialista. “Uma pessoa que morresse em pecado mortal, sem se confessar e arrepender, ia para o Inferno.” Contudo, havia sempre a possibilidade de o indivíduo em pecado ser perdoado, através da confissão da “sua falta” ao padre.
A grande diferença entre os antigos pecados – os mortais, entre outros – e os novos – os sociais –, é que os primeiros têm uma relação com Deus, enquanto os segundos “dizem respeito a comportamentos recorrentes repreensíveis, mas é como se Deus não tivesse nada com isso”, explica o docente universitário. São falhas da humanidade. E embora também provoquem uma ruptura com o divino, não se encontra escrito no Livro Sagrado que assim seja. Estabeleceu--se chamar-lhe pecados sociais. Os pecados não podem ser analisados fora do contexto social e histórico. “Um pecado é uma categorização de um acto, historicamente. Uma conotação moral de uma determinada época.”
Os pecados mortais foram estipulados numa sociedade muito frágil do ponto de vista económico e em regimes bastante estritos do ponto de vista moral. “Como a situação financeira se encontrava fragilizada, era preciso trabalhar muito. Logo, não se podia fomentar a preguiça”, exemplifica Moisés Espírito Santo. “Assim, os pecados acabam por ser imperativos sociais. Valores fundamentais para o funcionamento da sociedade. A necessidade de criar este conjunto de pecados nasce da inexistência de regras, códigos sociais.
”É claro que a noção de pecado – assim como do seu contrário, isto é, a virtude – corresponde ao nosso esquema religioso, o católico. “Por exemplo, a doutrina protestante não tem o conceito universal de pecado. O pecado é algo pessoal, individual. Isto é, cada um, em sua consciência, considera a sua actuação em cada momento. Os protestantes têm uma relação pessoal com Deus. É um caminho mais solitário. Depois, vivem sem a certeza de ter sido perdoados.” Como recorda o especialista, tratando-se de valores de época, os pecados podem ser sempre alterados.