
Há uma das bem-aventuranças que não convence muito : « Felizes os mansos... » A mansidão não é bem vista no contexto actual, porque é espontaneamente associada ao comportamento do cordeiro. Ser manso como um cordeiro equivale a ser-se totalmente passivo. Mas será que quando Jesus proclama felizes os mansos, está a elogiar a passividade e o "deixa andar" ?
Os mansos são comparáveis às pessoas que desactivam minas, aqueles peritos que sem perderem o sangue frio arriscam a sua vida para desactivar esses engenhos mortíferos. Hoje, a mecanização deste trabalho contribui sem dúvida para reduzir muito o perigo. Talvez já tenhamos visto estes especialistas, deitados de barriga para baixo e com extrema minúcia, a "limpar" as minas explosivas enterradas dum terreno.
Os mansos das bem-aventuranças são dessa raça. Fazem tudo o que podem para que as minas da maldade humana não expludam. São seres não-violentos. Não agridem nem respondem à violência. Abstêem-se de usar a violência contra os outros e recusam-se a fazer uso da violência quando são vítimas dela. Mais que isso, só fazem o Bem. E fazem-no, pondo em prática a Regra de ouro evangélica, que resume toda a Nova Lei: "Tudo o que quiserem que os homens façam por vós, façam-no vós por eles". É sendo não violentos e fazendo o Bem que os mansos alcançam a felicidade. Para chegar a esse ponto, é preciso muita coragem e determinação. Tal como os especialistas em desactivar minas, estão longe de serem cordeiros.
Michel Talbot « Prions en Église » Edição mensal Janeiro 2005, Novalis Éditeur Montréal, p 163, 196 p.